“Queimando pneus”
Por: Flávio Tavares *
Relembramos o passado não para chorar ou sorrir, mas para entender o que somos e o que viremos a ser. O passado é um exercício de futurologia, não uma anedota de coisa morta com sabor a champanhota. Assim, hoje me atenho a dois fatos.
Um de 50 anos: o comportamento dos soldados da Brigada Militar no Movimento da Legalidade, em 1961.
Outro...
Vivi as entranhas de ambas as situações e relembro acontecimentos que podem ser alerta ou ensinamento às coisas de agora.
No fim de agosto de 1961, quando o Batalhão de Operações da Brigada Militar ia partir para Torres para defender o Rio Grande de um ataque dos fuzileiros da Marinha, o capitão Heraclides Tarragó reuniu a tropa e expôs o perigo da situação.
Disse:
– Caso ataquem nosso Estado, nossa missão será de guerra. Missão perigosa que ninguém está obrigado a cumprir. Oxalá nossas autoridades consigam manter a paz e a ordem na República. Se não for possível, talvez tenhamos que derramar nosso sangue numa guerra civil. Por isto, quem não quiser seguir pode sair de forma. Alguns têm família numerosa e outros compromissos e não estão forçados a nada. Enquanto não houver luta que obrigue ao cumprimento do dever, o comando da Brigada não tomará nenhuma medida contra aqueles que não quiserem ir.
Chovia e fazia frio e só isto já predispunha a não partir, mas ninguém “saiu de forma”. Os brigadianos deram o grande exemplo de abnegação na Legalidade. Ganhavam pouco, mas dignamente. Seus chefes lhes transmitiam a visão de que “serviam à sociedade” e isto era a remuneração maior.
Hoje tratados como párias pelo Estado, os soldados da Brigada têm de queimar pneus para que o governo os ouça. Na fumaça nauseabunda, o protesto é também nosso pelo descaso dispensado a esses homens a quem recorremos nos momentos de perigo.
Nesses ...
*Jornalista e escritor
Fonte: Zero Hora | N° 16836 | 25 de setembro de 2011
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